quarta-feira, 19 de março de 2014

Distância



Nessa vida de vai e vem,
De cidades, rodovias e línguas,
Tenho conhecido saudades,
E colecionado distâncias.


 E uma música para acompanhar a melancolia:

Landslide - Smashing Pumpkins

"Landslide"


I took my love and took it down
I climbed a mountain, I turned around
And I saw my reflection in a snow covered hill
'til a landslide brought it down

Oh, mirror in the sky, what is love?
Can the child within my heart rise above?
Can I sail through the changing ocean tides?
Can I handle the seasons of my life?

Well, I've been afraid of changing cause I've
Built my life around you
Time makes you bolder
Even children get older
And I'm getting older, too
I'm getting older, too

I took my love and took it down
I climbed a mountain, I turned around
And if you see my reflection in the snow covered hill
The landslide brought it down
The landslide brought it down

sábado, 15 de fevereiro de 2014

"O estrangeiro" habitando cada vez mais "O comum"

"Como se essa grande cólera tivesse lavado de mim o mal, esvaziado de esperança, diante dessa noite carregada de signos e estrelas, eu me abria pela primeira vez à terna indiferença do mundo. Ao percebê-la tão parecida a mim mesmo, tão fraternal, enfim, eu senti que havia sido feliz e que eu era feliz mais uma vez. Para que tudo fosse consumado, para que eu me sentisse menos só, restava-me apenas desejar que houvesse muitos espectadores no dia de minha execução e que eles me recebessem com gritos de ódio. "
                               O estrangeiro, Albert Camus (1942)
 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Falando besteira.

Difícil não ter uma posição pessimista de tudo. Nos últimos tempos, se vejo as notícias nos portais online, se abro o facebook, se vejo telejornal, se saio à rua e ouço as conversas ao redor, se troco ideias com alguém... vou encolhendo, encolhendo e ficando pequenininha, tão pequenininha, de tanta tristeza generalizada. O que está certo dentro disso tudo? Mais fácil perguntar isso do que o contrário. As pessoas desfilam ódio e preconceito numa posição completamente defensiva, hostilizando outras que nada mais, nada menos, são culpadas apenas de pensar e expor suas opiniões.
E aí vem o loop eterno: todos têm o direito de expor suas opiniões, mesmo aqueles que são contrários a isso (entenderam o paradoxo??).
Então vamos lá: ódio aos homossexuais (tudo é culpa deles, desse "povo que não presta"), aos índios (sim, a demarcação da terra deles nada mais é que um golpe influenciado pelo império americano e europeu querendo impedir a expansão das nossas fronteiras agrícolas), aos médicos cubanos e Cuba em geral (escória do planeta, DEUSMELIVRE se o Brasil vira um país como esse, sem educação, sem saúde, sem mídia livre (!!!), com tanta pobreza, sem esperança, já pensou como seria?), aos serventes de pedreiro que conseguiram comprar carro (gente, quem aguenta tanto carro na cidade?), às mulheres que insistem em ter direitos iguais e voz (don´t even get me started), aos folgados que entram na universidade pelo sistema de cotas (coisa mais injusta com quem estudou direitinho na escola particular a vida toda, não é, meu povo branco?), a tudo que atrasa nossa sociedade e corrompe os valores tradicionais que vêm dando certo a tanto tempo. Afinal, pra que mexer em time que tá dando certo, né?
(Pausa pra garantir que todos entenderam o recurso da ironia usado aqui. OK)
Por tudo isso e muito muito muito mais (nossa, muito mais mesmo) é que não tem como permanecer feliz em um país que, por exemplo, cogita colocar Bolsonaro na Comissão de Direitos Humanos da câmara. Parece coisa de uma realidade paralela, uma piada contada por aqueles palhaços melancólicos e decadentes que só dá vontade de chorar. Depois de tudo, vem isso de novo? Não quero falar mal do país, colocar a culpa em algo externo e fingir que não tenho nada a ver com isso. Mas então, o que fazer? Parece que estamos vivendo constantemente em um episódio de Simpsons, mas sem o lado engraçado.
Eu sei que minha visão é apenas uma faceta um tanto ingênua dessa brincadeira toda, e que eu também, vez sim, vez não, estou apenas colocando o nariz de palhaço. Mas é que é triste, meu povo. E eu não sei mais o que opinar, o que pensar, se devo ou não racionar sobre isso tudo, pois fico cada vez mais longe de qualquer fio de esperança. Acho que vou parar de ler notícias por um tempo.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Voltei (não sei se agora é pra valer)

E volto a escrever para você, para mim, pra o estranho, para o âmago, para o nada. Simplesmente porque me apetece, porque há a necessidade de deixar esse fio solto, porque não posso me afastar demais desse solo, só por... que. E mais nada. Assim, quando expelir algo, deixarei aqui, exposto. Pra mim, pra você, para o nada.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A tomar nota


Quero menos pão e mais circo.
Menos açúcar e mais vinho.
Quero poesia a substituir meus pensamentos.
Quero a leveza que sou capaz de suportar.
E gostar mais do que sou do que de quem eu seria,
Porque o sou agora
E o seria é condicional por demais.


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Ich bin ein Ausländer!

Então agora eu moro em Berlim. Talvez "moro" não seja o melhor verbo, afinal são só oito meses, mas ainda sim é tempo suficiente para conhecer o lado turista e morador/cotidiano da cidade. 
Tá bom que eu sempre quis vir morar na Europa por um tempo, acho que tem algo nesse continente que é por demais sedutor, uma fleuma de antiguidade versus modernidade que se mistura muito bem e causa água na boca dos brasileiros. Só tenho uma ressalva: esse idioma, esse enigma, esse som distante, essas palavras looooooooongas, esse amontoado de consoantes encavaladas às vezes salvas por uma vogal, essa pronúncia agressiva que dá medo até nas almas mais tranquilas... o alemão. Aff. Que aliás, eu não falo. Aff. Assim, vou vivendo nessa cidade onde sou surda e muda (muitos falam inglês, mas não é assim toooodo mundo, como dizem). Nada melhor pra se sentir a estrangeira! Pelo menos a paisagem é maravilhosa, e isso eu posso experimentar e partilhar. 
Tschüss!!
Street Art no East Side Gallery.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

The Catcher in the Rye - J.D. Salinger


(Pausa para falar sobre a ausência de meses a fio. Ok, superado)

Penso que quando se lê um livro e pretende-se escrever sobre o mesmo, é preciso fazê-lo na hora, no instante que se termina a leitura. A provocação que aquele amontoado de páginas lhe causou estará fervilhando naquele momento. Talvez, dependendo do impacto do tal livrinho, essa sensação dure ainda alguns dias, e depois se transforme em algo como: “é, aquele livro realmente me marcou, muito forte”, embora você não lembre mais o porquê. É assim: leu, escreva logo. Lembro quando li “O Estrangeiro”, de Albert Camus (a pronúncia deste nome nunca soa natural na minha cabeça), e queria desesperadamente falar com alguém sobre o livro, discutir o assunto, ter outras opiniões. Mas, vá la, ninguém tinha lido mesmo. Fazer o que, a vontade passou, a sensação fervilhante passou, e ficou a impressão de um livro de impacto forte. Lembro-me vagamente a razão.


Pois bem, romances à parte, o objetivo aqui era escrever sobre “O apanhador no campo de centeio”, de J. D. Salinger. É um daqueles livros que um dia, mais cedo ou mais tarde, você acaba comprando uma cópia e lê. Esta passando numa feirinha de antiguidades/tralhas em um Sábado, ele estava baratinho me olhando de uma banca, comprei.
É um adolescente. Ele tem suas rebeldias. Tem suas manias. Tem uma pontinha de estupidez que leva várias vezes a escolhas tremendamente erradas e imbecis. E apesar do autor-narrador usar um vocabulário bastante simples, cheio de gírias (de 1950, vá lá), e muito repetitivo, ele diz diretamente tudo o que se propõe, e te envolve indefinidamente.
Mas o mais interessante e intrigante é sua ojeriza desde adolescente por tudo e todos que o envolvem. Salvo algumas poucas pessoas de seu convívio mais pessoal, como sua irmã, personagem leve e alegre, esse jovem sente uma certa náusea de todos, do comportamento e discurso das pessoas, de suas atitudes, das atividades da vida cotidiana, tudo. De certa forma, você espera o tempo todo que algo de realmente ruim aconteça.
O que me assusta é que na época que li (faz aí uns 2 meses apenas) me identifiquei bastante com o tom de agonia do moço. Às vezes tudo parece tão sem sentido e todos parecem tão babacas. Algo como uma 
misantropia generalizada. E isso assusta. Alguém me disse, conversa-vai-conversa-vem, que o livro se tornou a bandeira dos tais adolescentes incompreendidos, vítimas do tão afamado bulling, calados e estranhos, que em um belo dia saem por aí atirando em todo mundo. Eu não compartilho desta visão. Acho que o livro destila, em seu mais puro amargor, floreado com um pouco da luz pueril da adolescência, o “tantinho assim” que todos nós temos de aflição/preguiça/desgosto do mundo. E disfarçamos bem todos os dias. Tá bom, não que seja assim sempre, mas também não vou escrever um livro de auto-ajuda. E, só pra constar, SPOILER!!!, nada de realmente ruim acontece. Afinal, é só um dia depois do outro.
Queria tê-lo aqui para citar as passagens que mais me marcaram, mas no momento estou bem longe de casa. Talvez eu acabe relendo o livro.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

“Sessão de terapia: seu tempo acabou” Ou “Faz diferença?”



"Existirão pessoas que simplesmente nunca se encontram? Uma vez assisti a algum filme, ou comercial, ou li em algum lugar, enfim... não me lembro onde foi, mas a frase aterrorizante (esse adjetivo vem do olhar de hoje) foi a seguinte: “e o cara mais genial que conheço não tinha ideia do que queria da vida aos 22 anos de idade”. Na época, eu adolescente, indecisa, perdida, encontrei muito conforto nessa frase. Mas os 22 vieram e passaram. Daí houve algum momento, quando conheci Neil Gaiman, que li em alguma parte de alguma contracapa de um livro dele (memória tá falhando pesado) que ele próprio só começou a escrever aos 24 anos, e antes não tinha noção do que queria também. Muito bem, pensei, que ótimo, uma esperança. Mas os 24 anos vieram e passaram. Mas ainda sim sempre fica uma expectativa, de alguma forma existe a certeza de que quando o momento chegar haverá sinos tocando e sinais bem claros em toda a sua volta. Mas, enquanto isso não acontece, você coloca o despertador para tocar as 7 da manhã. Depois de uma noite de sonhos conturbados e momentos despertos, o despertador cumpre sua função, e você pensa: para que levantar agora? Fará assim tanta diferença se eu acordar agora ou daqui a 15, 30 ou 45 minutos? Finalmente, levanta, se arruma, às vezes até exagera na produção, pois você quer e precisa se sentir bem, e vai “trabalhar”. A razão das aspas é compreensível só para aqueles envolvidos com pós-graduação stricto-senso que vivem da bolsa que recebem. Um fenômeno conhecido como “síndrome do vampiro intelectual”, suga sua mente, sua alma, te deixa marcas profundas, e não dá nada em troca. Durante o dia você repassa muitas decisões na sua cabeça, enquanto realiza uma tarefa que deveria receber mais atenção. “E se isso, e se aquilo”, “talvez se eu fizer isso”, “quem sabe é por causa disso” e outras frases ficam salteando nos pensamentos até que a resolução do dia brota: “ah, já sei, vou fazer isso, começo segunda feira, uma vida toda organizada, vai dar tudo certo, era disso que eu precisava”, e os seus problemas estão resolvidos. É possível até visualizar tudo correndo perfeitamente, com disciplina e organização até sua vida normal poderia ser mais interessante. No intervalo entre o término de uma tarefa, uma pausa para o café ou uma ida ao banheiro, toda a resolução fica esquecida, como se nunca tivesse surgido. Você decide que já trabalhou demais, e mesmo se fizer hora extra nos próximos 100 anos não vai terminar o trabalho mesmo (aliás, foi por isso mesmo que você nem quis acordar mais cedo), então vai embora. Pega trânsito. Pensa que deveria ter saído mais tarde para evitar o trânsito mais sempre faz a coisa errada mesmo. Chega em casa, liga a TV somente nos programas de comédias, ri um pouco, esquece um pouco, faz um lanche, ah como é gostoso estar em casa, que bom ter um teto, uma casa confortável, uma comida gostosa, nem sei porque passo tanto tempo pensando e reclamando. Decide que se não for dormir mais cedo não conseguirá levantar mais cedo amanhã, que é o que deveria fazer mesmo, ser mais positiva, trabalhar mais, com mais prazer e etc. Pega um livro, lê durante um bom tempo até o sono bater. Apaga a luz, se enrola nas cobertas, e, apesar de cansada, pensa e pensa e pensa por muito tempo. E lembra que amanhã terá que fazer tudo de novo. E dorme. E tem sonhos conturbados e momentos despertos à noite, até que seu despertador toca às 7 da manhã. Faz diferença se eu me levantar agora ou daqui a 15, 30 ou 45 minutos? A sensação é de estar inventando coisas para arrastar o tempo, disfarçar os dias, justificar a existência, preencher o passar dos minutos."


quinta-feira, 29 de março de 2012

Ah, a hereditariedade...


"Ah Pai, por alguma ironia, como se já não estivéssemos farta dela, lembro sempre de ligar-te lá pro meio da noite, quando já não é mais educado tocar as campainhas telefônicas das casas de outrem, quando já tenho uma desculpa quase que moral para ignorar minha vontade de falar-te. Vai dia e vai hora e penso que em algum momento isso deve sim acontecer. Penso que por um tempo poderíamos conversar sobre aqueles filmes que você viu, que você sabe que eu vi, e sabemos juntos que vimos porque ambos gostamos do diretor. Esse diretor tem um estilo que muito nos agrada, algo da linguagem que usa, transmite, sei lá, a solidão dos personagens. Sei que falaríamos algo como isso. Ou sobre aquele CD que você me deu no Natal passado. Mandou o moço entregar aqui em casa, com um cartão tão emocionado quanto os cartões de pessoas distantes e queridas e arrependidas devem ser. “Neste ano...” e por aí vão palavras que muito prometem, e são verdadeiras, mas, Ei!, são só palavras. Não cheguei a comentar contigo, pois afinal só nos vimos uma vez depois disso, mas eu gostei bastante do CD. Embora você saiba disso, nem preciso falar, você já sabia de antemão. Sabe, talvez seja justamente essa compreensão antecipada entre nós que nos estimule tanto a poupar palavras. E contatos. E momentos. E, no entanto, tenho palavras sobrando, ensaiadas em longo prazo na minha cabeça, para gastar na terapia que um dia irei fazer, quando criar coragem, quando criar dinheiro, quando criar prioridades na vida atrapalhada que tenho. Como poderia eu ter uma opinião sobre como nos tratamos? Espelho meu, como poderia eu? E naquele telefonema falaríamos sobre o filme, sobre o CD, e em algum ponto costurado nessas entrelinhas que nós dois sabemos bem ler, toda aquela vaga infância, todo o crescer, os longos anos que hoje passam pela minha cabeça como imagens esfumaçadas lentamente desaparecendo, tudo isso seria entendido, explicado, perdoado, consertado, vivido. Amanhã, sim, amanhã eu te ligo."

quarta-feira, 28 de março de 2012

Das cenas inesquecíveis - Lost in Translation


Sofia Coppola é o tipo de diretora e roteirista que ou você adora ou odeia. Eu me encaixo no primeiro grupo. Há algo de melancólico nos filmes dela, talvez algo embutido entre o silêncio que paira entre uma fala e outra, ou na música que embala as paisagens urbanas... esse algo melancólico me encanta. A diretora consegue captar o mundo solitário de um indivíduo, seja ele um ator de cinema decadente no meio de uma crise pessoal ou uma moça na flor da juventude com um sentimento aterrador de inadequação e insatisfação. Porque o indivíduo está mesmo em si quando está em silêncio. É ali que pensa, que sofre, que pondera, medita... ou que não quer pensar em nada, simplesmente. De alguma forma bizarra a diretora consegue captar isso, e transforma em algo quase poético em suas cenas.
A cena a seguir é do filme Lost in Translation, ou, no Brasil, Encontros e Desencontros. Nessa cena há o "encontro" final dos dois, que apenas fecha o enorme "desencontro" entre eles e consigo mesmos. Pode parecer lírico demais, até piegas, mas um pouco de cada um de nós se identifica com os elementos dessa cena. De quebra, a música ajuda muito, o som abafado do Jesus and Mary Chain com Just Like Honey. Liiiindo.