sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A tomar nota


Quero menos pão e mais circo.
Menos açúcar e mais vinho.
Quero poesia a substituir meus pensamentos.
Quero a leveza que sou capaz de suportar.
E gostar mais do que sou do que de quem eu seria,
Porque o sou agora
E o seria é condicional por demais.


sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Ich bin ein Ausländer!

Então agora eu moro em Berlim. Talvez "moro" não seja o melhor verbo, afinal são só oito meses, mas ainda sim é tempo suficiente para conhecer o lado turista e morador/cotidiano da cidade. 
Tá bom que eu sempre quis vir morar na Europa por um tempo, acho que tem algo nesse continente que é por demais sedutor, uma fleuma de antiguidade versus modernidade que se mistura muito bem e causa água na boca dos brasileiros. Só tenho uma ressalva: esse idioma, esse enigma, esse som distante, essas palavras looooooooongas, esse amontoado de consoantes encavaladas às vezes salvas por uma vogal, essa pronúncia agressiva que dá medo até nas almas mais tranquilas... o alemão. Aff. Que aliás, eu não falo. Aff. Assim, vou vivendo nessa cidade onde sou surda e muda (muitos falam inglês, mas não é assim toooodo mundo, como dizem). Nada melhor pra se sentir a estrangeira! Pelo menos a paisagem é maravilhosa, e isso eu posso experimentar e partilhar. 
Tschüss!!
Street Art no East Side Gallery.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

The Catcher in the Rye - J.D. Salinger


(Pausa para falar sobre a ausência de meses a fio. Ok, superado)

Penso que quando se lê um livro e pretende-se escrever sobre o mesmo, é preciso fazê-lo na hora, no instante que se termina a leitura. A provocação que aquele amontoado de páginas lhe causou estará fervilhando naquele momento. Talvez, dependendo do impacto do tal livrinho, essa sensação dure ainda alguns dias, e depois se transforme em algo como: “é, aquele livro realmente me marcou, muito forte”, embora você não lembre mais o porquê. É assim: leu, escreva logo. Lembro quando li “O Estrangeiro”, de Albert Camus (a pronúncia deste nome nunca soa natural na minha cabeça), e queria desesperadamente falar com alguém sobre o livro, discutir o assunto, ter outras opiniões. Mas, vá la, ninguém tinha lido mesmo. Fazer o que, a vontade passou, a sensação fervilhante passou, e ficou a impressão de um livro de impacto forte. Lembro-me vagamente a razão.


Pois bem, romances à parte, o objetivo aqui era escrever sobre “O apanhador no campo de centeio”, de J. D. Salinger. É um daqueles livros que um dia, mais cedo ou mais tarde, você acaba comprando uma cópia e lê. Esta passando numa feirinha de antiguidades/tralhas em um Sábado, ele estava baratinho me olhando de uma banca, comprei.
É um adolescente. Ele tem suas rebeldias. Tem suas manias. Tem uma pontinha de estupidez que leva várias vezes a escolhas tremendamente erradas e imbecis. E apesar do autor-narrador usar um vocabulário bastante simples, cheio de gírias (de 1950, vá lá), e muito repetitivo, ele diz diretamente tudo o que se propõe, e te envolve indefinidamente.
Mas o mais interessante e intrigante é sua ojeriza desde adolescente por tudo e todos que o envolvem. Salvo algumas poucas pessoas de seu convívio mais pessoal, como sua irmã, personagem leve e alegre, esse jovem sente uma certa náusea de todos, do comportamento e discurso das pessoas, de suas atitudes, das atividades da vida cotidiana, tudo. De certa forma, você espera o tempo todo que algo de realmente ruim aconteça.
O que me assusta é que na época que li (faz aí uns 2 meses apenas) me identifiquei bastante com o tom de agonia do moço. Às vezes tudo parece tão sem sentido e todos parecem tão babacas. Algo como uma 
misantropia generalizada. E isso assusta. Alguém me disse, conversa-vai-conversa-vem, que o livro se tornou a bandeira dos tais adolescentes incompreendidos, vítimas do tão afamado bulling, calados e estranhos, que em um belo dia saem por aí atirando em todo mundo. Eu não compartilho desta visão. Acho que o livro destila, em seu mais puro amargor, floreado com um pouco da luz pueril da adolescência, o “tantinho assim” que todos nós temos de aflição/preguiça/desgosto do mundo. E disfarçamos bem todos os dias. Tá bom, não que seja assim sempre, mas também não vou escrever um livro de auto-ajuda. E, só pra constar, SPOILER!!!, nada de realmente ruim acontece. Afinal, é só um dia depois do outro.
Queria tê-lo aqui para citar as passagens que mais me marcaram, mas no momento estou bem longe de casa. Talvez eu acabe relendo o livro.