(Pausa para falar sobre a ausência de meses a
fio. Ok, superado)
Penso que quando se lê um livro e pretende-se
escrever sobre o mesmo, é preciso fazê-lo na hora, no instante que se termina a
leitura. A provocação que aquele amontoado de páginas lhe causou estará
fervilhando naquele momento. Talvez, dependendo do impacto do tal livrinho,
essa sensação dure ainda alguns dias, e depois se transforme em algo como: “é,
aquele livro realmente me marcou, muito forte”, embora você não lembre mais o
porquê. É assim: leu, escreva logo. Lembro quando li “O Estrangeiro”, de Albert
Camus (a pronúncia deste nome nunca soa natural na minha cabeça), e queria
desesperadamente falar com alguém sobre o livro, discutir o assunto, ter outras
opiniões. Mas, vá la, ninguém tinha lido mesmo. Fazer o que, a vontade passou,
a sensação fervilhante passou, e ficou a impressão de um livro de impacto
forte. Lembro-me vagamente a razão.
Pois bem, romances à parte, o objetivo aqui era escrever sobre “O apanhador no campo de centeio”, de J. D. Salinger. É um daqueles livros que um dia, mais cedo ou mais tarde, você acaba comprando uma cópia e lê. Esta passando numa feirinha de antiguidades/tralhas em um Sábado, ele estava baratinho me olhando de uma banca, comprei.
É um adolescente. Ele tem suas rebeldias. Tem
suas manias. Tem uma pontinha de estupidez que leva várias vezes a escolhas
tremendamente erradas e imbecis. E apesar do autor-narrador usar um vocabulário
bastante simples, cheio de gírias (de 1950, vá lá), e muito repetitivo, ele diz
diretamente tudo o que se propõe, e te envolve indefinidamente.
Mas o mais interessante e intrigante é sua ojeriza
desde adolescente por tudo e todos que o envolvem. Salvo algumas poucas pessoas
de seu convívio mais pessoal, como sua irmã, personagem leve e alegre, esse
jovem sente uma certa náusea de todos, do comportamento e discurso das pessoas,
de suas atitudes, das atividades da vida cotidiana, tudo. De certa forma, você
espera o tempo todo que algo de realmente ruim aconteça.
O que me assusta é que na época que li (faz aí
uns 2 meses apenas) me identifiquei bastante com o tom de agonia do moço. Às
vezes tudo parece tão sem sentido e todos parecem tão babacas. Algo como uma
misantropia generalizada. E isso assusta. Alguém me disse, conversa-vai-conversa-vem,
que o livro se tornou a bandeira dos tais adolescentes incompreendidos, vítimas
do tão afamado bulling, calados e
estranhos, que em um belo dia saem por aí atirando em todo mundo. Eu não
compartilho desta visão. Acho que o livro destila, em seu mais puro amargor,
floreado com um pouco da luz pueril da adolescência, o “tantinho assim” que
todos nós temos de aflição/preguiça/desgosto do mundo. E disfarçamos bem todos
os dias. Tá bom, não que seja assim sempre, mas também não vou escrever um
livro de auto-ajuda. E, só pra constar, SPOILER!!!, nada de realmente ruim
acontece. Afinal, é só um dia depois do outro.
Queria tê-lo aqui para citar as passagens que
mais me marcaram, mas no momento estou bem longe de casa. Talvez eu acabe
relendo o livro.