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sábado, 15 de fevereiro de 2014

"O estrangeiro" habitando cada vez mais "O comum"

"Como se essa grande cólera tivesse lavado de mim o mal, esvaziado de esperança, diante dessa noite carregada de signos e estrelas, eu me abria pela primeira vez à terna indiferença do mundo. Ao percebê-la tão parecida a mim mesmo, tão fraternal, enfim, eu senti que havia sido feliz e que eu era feliz mais uma vez. Para que tudo fosse consumado, para que eu me sentisse menos só, restava-me apenas desejar que houvesse muitos espectadores no dia de minha execução e que eles me recebessem com gritos de ódio. "
                               O estrangeiro, Albert Camus (1942)
 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

The Catcher in the Rye - J.D. Salinger


(Pausa para falar sobre a ausência de meses a fio. Ok, superado)

Penso que quando se lê um livro e pretende-se escrever sobre o mesmo, é preciso fazê-lo na hora, no instante que se termina a leitura. A provocação que aquele amontoado de páginas lhe causou estará fervilhando naquele momento. Talvez, dependendo do impacto do tal livrinho, essa sensação dure ainda alguns dias, e depois se transforme em algo como: “é, aquele livro realmente me marcou, muito forte”, embora você não lembre mais o porquê. É assim: leu, escreva logo. Lembro quando li “O Estrangeiro”, de Albert Camus (a pronúncia deste nome nunca soa natural na minha cabeça), e queria desesperadamente falar com alguém sobre o livro, discutir o assunto, ter outras opiniões. Mas, vá la, ninguém tinha lido mesmo. Fazer o que, a vontade passou, a sensação fervilhante passou, e ficou a impressão de um livro de impacto forte. Lembro-me vagamente a razão.


Pois bem, romances à parte, o objetivo aqui era escrever sobre “O apanhador no campo de centeio”, de J. D. Salinger. É um daqueles livros que um dia, mais cedo ou mais tarde, você acaba comprando uma cópia e lê. Esta passando numa feirinha de antiguidades/tralhas em um Sábado, ele estava baratinho me olhando de uma banca, comprei.
É um adolescente. Ele tem suas rebeldias. Tem suas manias. Tem uma pontinha de estupidez que leva várias vezes a escolhas tremendamente erradas e imbecis. E apesar do autor-narrador usar um vocabulário bastante simples, cheio de gírias (de 1950, vá lá), e muito repetitivo, ele diz diretamente tudo o que se propõe, e te envolve indefinidamente.
Mas o mais interessante e intrigante é sua ojeriza desde adolescente por tudo e todos que o envolvem. Salvo algumas poucas pessoas de seu convívio mais pessoal, como sua irmã, personagem leve e alegre, esse jovem sente uma certa náusea de todos, do comportamento e discurso das pessoas, de suas atitudes, das atividades da vida cotidiana, tudo. De certa forma, você espera o tempo todo que algo de realmente ruim aconteça.
O que me assusta é que na época que li (faz aí uns 2 meses apenas) me identifiquei bastante com o tom de agonia do moço. Às vezes tudo parece tão sem sentido e todos parecem tão babacas. Algo como uma 
misantropia generalizada. E isso assusta. Alguém me disse, conversa-vai-conversa-vem, que o livro se tornou a bandeira dos tais adolescentes incompreendidos, vítimas do tão afamado bulling, calados e estranhos, que em um belo dia saem por aí atirando em todo mundo. Eu não compartilho desta visão. Acho que o livro destila, em seu mais puro amargor, floreado com um pouco da luz pueril da adolescência, o “tantinho assim” que todos nós temos de aflição/preguiça/desgosto do mundo. E disfarçamos bem todos os dias. Tá bom, não que seja assim sempre, mas também não vou escrever um livro de auto-ajuda. E, só pra constar, SPOILER!!!, nada de realmente ruim acontece. Afinal, é só um dia depois do outro.
Queria tê-lo aqui para citar as passagens que mais me marcaram, mas no momento estou bem longe de casa. Talvez eu acabe relendo o livro.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Desafio Literário 2012 - Eva Luna, Isabel Allende



Perambulando em Valparaíso passei por uma feirinha onde havia um vendedor de livros usados. Já estava interessada em conhecer um pouco da literatura chilena, e essa foi a oportunidade. Comprei um livro de páginas amareladas da Isabel Allende, uma das mais conhecidas escritoras chilenas. Calhou também do livro se chamar Eva Luna, nome próprio, apropriado para o Desafio Literário deste mês, além de ser uma desculpa para treinar minha leitura em espanhol.
Pois bem, o livro já começa com uma frase marcante, que diz muito sobre a protagonista e narradora do romance: “Me llamo Eva, que quiere decir vida, según um libro que mi madre consultó para escoger mi nombre”. Eva é filha das chamas entre Consuelo e um índio jardineiro em seu leito de morte. Consuelo, sua mãe, mulher desgarrada de raízes, com poucas emoções em sua vida, empregada de um médico que embalsamava cadáveres com um líquido misterioso, criou a filha de forma simples, e a ensinou a contar muitas histórias fantásticas e criativas. Após a morte da mãe, viveu como empregada de casa em casa, nas quais trabalhava, sonhava e, vez por outra, aprontava em protesto ao comportamento dos patrões. Quando finalmente fugiu para as ruas, sua habilidade de contar histórias a salvou por diversas vezes, e incitou a simpatia de muitos. A epígrafe do livro já dá pistas desse fato, pois é uma citação sobre Sherazade, das Mil e Uma Noites. Enquanto Eva Luna cresce e adquire sabedoria, o país no qual se passa a história sofre uma crise severa devido à ditadura. Não há menção direta à qual seria esse país, mas levando em consideração a nacionalidade da autora e a história sangrenta e pesada de ditadura do Chile, presume-se que esse seja o país de Eva. A ditadura, como se espera, é tratada como o mal, um atraso, um retrocesso pela população do local. O próprio amante de Eva está envolvido no combate à ditadura. Humberto Naranjo é um homem criado na rua, com modos rudes, que, com o tempo, encontra sua vocação: liderar uma guerrilha revolucionária contra o sistema. Apesar de admirar Humberto, sabemos desde o início do livro que a verdadeira paixão de Eva seria Rolf Carlé, cuja história é contada em paralelo. Rolf, dono de um passado doloroso e marcante, é um jornalista que documenta o movimento de guerrilha liderado por Naranjo.
Isabel Allende

Uma história com um fundo político e idealista forte, com um imaginário fantástico acoplado aos fatos do dia a dia que só escritores sul-americanos são capazes de fazer, e um enredo envolvente que, mesmo lendo em espanhol, dá vontade de continuar pra sempre, Eva Luna foi um ótimo livro de iniciação à literatura chilena. Agora devo procurar obras de outros nomes de peso, como Gabriela Mistral e Roberto Bolaño, para rechear as leituras dos nossos escritores vizinhos. 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Desafio Literário 2012 - Coraline - Neil Gaiman





Coraline (não Caroline!) é um livro para crianças, ou era para ser. Lembro que quando vi o filme, anos atrás, fiquei até com um medinho... mas acho que as crianças são mais corajosas hoje em dia. A própria Coraline (não Caroline!) é uma menina bem corajosa. E curiosa. Recém moradora de uma casa meio afastada de tudo, passa seus dias brincando do lado de fora, explorando a paisagem, conhecendo os vizinhos e pedindo atenção dos pais, sempre muito ocupados, trabalhando em casa. Ao lado do gato, uma companhia bastante volátil, visita locais do quintal, toma chá com as vizinhas, senhoras há muito aposentadas do teatro, e troca palavras com o vizinho de cima, um treinador de camundongos de circo. Dizem que os camundongos tocam instrumentos e treinam o dia todo. Se é verdade Coraline não sabe. Mas essa rotina não é suficientemente interessante para a menina, afinal, está de férias e tem muitas horas pra gastar. Tudo muda quando a mãe, tentando dar-lhe o que fazer, mostra-lhe a chave de uma antiga porta num quarto onde se guarda a mobília herdada da avó. A porta foi cimentada de cima abaixo, separando a casa em apartamentos. Depois de abrir a porta e mostrar a filha os tijolos por trás, deixa-a destrancada, pois não há motivo para passar a chave. A partir daí tudo começa a ficar muito estranho. Um certo dia, sozinha em casa, Coraline se coça de curiosidade para reabrir aquela porta, mas o que encontra quando abre não é nada do que tinha visto antes. Seus olhos veem um corredor escuro e longo, e não há curiosidade que resista a atravessá-lo. Do outro lado encontra sua casa, a mesma, igual, de novo. Só que muito melhor, muito mais legal, cheio de diversão e cor, como sempre quis. E uma mãe, igual à sua, que a ama muito quer que a filha se divirta o quanto possa. Só uma detalhe a difere: seus olhos são botões pretos. Caroline se diverte, come seu prato favorito, brinca, relaxa e volta pra casa. Mas seus pais da casa real nunca mais aparecem. O que aconteceu? Coraline (não Caroline!), corajosa como é, terá que descobrir.
Como um romance infanto-juvenil do Neil Gaiman não é nada além de ótimo, é certeza de uma boa leitura, por mais maduro e adulto que você seja. Se gostar, recomendo também o Livro do Cemitério, que é uma delícia de leitura. 


domingo, 5 de fevereiro de 2012

O Hobbit - J.R.R. Tolkien






O Hobbit faz parte da vasta lista de livros que me envergonho de nunca ter lido. Como haverá o filme do livro de Tolkien este ano (após muita enrolação), e havia, convenientemente, um exemplar da obra aqui em casa à minha disposição (esta edição da foto), resolvi eliminar este item do “hall of shame”. Daí, só faltarão outros milhares (como a trilogia que o segue... eu sei, eu sei, me envergonho muito mesmo!).
Logo no início do livro me identifiquei muito com o estilo de vida hobbit. Acho que não prezo nada mais que o conforto da minha “toca”, os desjejuns fartos, e as horas de contemplação da vida sentada na poltrona segura da minha sala. A rotina é um prazer apreciado por poucos, deveras. Mas esse hobbit, o Sr. Bilbo Bolseiro, foi obrigado por Gandalf e um bando de anões a seguir em uma aventura em busca de vingança e recuperação de um tesouro há muito tomado dos anões por um dragão, Smaug, nas montanhas. Relutante como pôde e desconfiado como nunca, partiu para essa aventura perigosa e traiçoeira contra sua vontade. Mas ao longo do caminho, onde conheceu elfos, águias e homens,  e combateu trolls, orcs e wargs, foi, aos poucos, revelando ser mais corajoso e sábio do que jamais imaginara. E isso mudou muito sua vida, assim como a de seus colegas.
Vários pequenos detalhes do livro tornam a narrativa uma obra muito divertida e especial para a leitura. O estilo de escrever de Tolkien deixa o leitor entretido, pois é ao mesmo tempo formal e bastante descontraído. Passagens como “(...) e havia o hobbit que era tão grande que podia até montar um cavalo”, entre outras, abrem sorrisos durante a leitura.
E mais: durante a aventura o hobbit encontra o anel! Sim, aquele mesmo anel que gerou todos os problemas que você conhece pelos outros livros/filmes (my precious!!!). E eu fiquei pensando, talvez influenciada pelo conhecimento da história, que neste livro o anel já demonstrava ser um pouco maligno como viemos a saber depois. O próprio Bilbo, ao encontra-lo e descobrir sua utilidade, não quis, a princípio, contar a nenhum de seus companheiros o achado.
Durante a longa aventura, várias vezes o Sr. Bilbo Bolseiro deseja estar em sua toca, prestes a tomar o segundo desjejum. E o desejou não pela última vez. O caminho é longo, as aventuras árduas e o tesouro farto. Melhor ainda é acompanhar tudo isso pela leitura.

O filme, O Hobbit - Uma Jornada Inesperada, está previsto para este ano.



sábado, 28 de janeiro de 2012

Coisas Frágeis - Neil Gaiman



    Quem conhece Neil Gaiman não pára de lê-lo jamais. Espero que a criatividade dele nunca acabe, senão seria um abismo literário. Coisas Frágeis apenas mantém a fama do autor como uma autoridade na arte de contar histórias. Com 9 contos, nos mais diversos tópicos e estilos de narrativa, Gaiman nos diverte tanto que, para quem lê à noite, antes de dormir, sofre o risco perder várias horas de sono. 
    Algo bastante interessante deste livro é que há uma espécie de prólogo escrito pelo próprio autor que nos explica de onde surgiu a ideia de cada conto. Não se surpreenda se encontrar um conto feito a pedido para a estréia de Matrix, ou um conto que, usando seu personagem mais famoso, Shadow (Deuses Americanos, leia!), integra personagens da história de Beowolf. 
    Contos perturbadores, fantásticos, divertidos e surreais vão se revelando no caminho. Adorável! 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Desafio Literário 2012: Julie & Julia - Julie Powell




Há, sem dúvida, uma simpatia pelos livros autobiográficos. A razão é simples: os fatos narrados são corriqueiros, por vezes trágicos, por vezes cômicos, e você já passou por eles, ou por alguns deles ao menos. O mesmo senti quando li “Comer, rezar, amar”, que pra minha surpresa de menina que não lê blockbusters, principalmente que tendam à auto-ajuda, foi um pequeno deleite. A mesma simpatia de identificação pessoal aconteceu com o livro de Julie Powell.


                                               Essa é a Julie real!

Comida e cozinha, ou cozinha e comida, é algo que permeia todas as relações humanas.  E assim como algumas pessoas são mais humanas do que outras, algumas gostam mais de cozinhar do que outras (sem ofensas... eu mesma sou quase analfabeta, mas adoro tentar!).  No livro de Julie Powell você encontrará muitas receitas entremeadas com o cotidiano ora histérico, ora tedioso, ora depressivo, ora tudo ao mesmo tempo, da secretária casada desde os 24 anos, que está prestes a completar os famigerados 30 e ainda não tem ideia de como alavancar sua vida. Talvez um bebê resolvesse o problema... talvez... não fosse sua síndrome de ovários policísticos ou a completa imaturidade emocional para a tarefa. Ela resolve então se engajar num projeto totalmente lunático: cozinhar todas as 524 receitas do livro Mastaring the Art of French Cooking, de Julia Child (para os desavisados, um clássico) em 365 dias (um ano se você fizer as contas). E registrar tudo em um blog, é claro. Daí começa a aventura de conseguir balancear a carreira (ou a falta dela), dinheiro, marido (e os ataques histéricos, quem nunca?), amigos, família (a mãe perde de vez a esperança que a pobre filha vá virar gente grande) e o desafio de realmente CONSEGUIR fazer as receitas. Porque, por favor, há um capítulo só de receitas de carnes servidas frias no meio de gelatinas? Quem come isso? E no mais, você aprende que a comida francesa é qualquer coisa, geralmente algum miúdo esquisito, como rins, fígado moela e até miolos, embebida em bastante creme de leite, com mil temperos, e muita, muita, muita, mas muita manteiga mesmo.

No final das contas, o projeto maluco engrena de verdade, e ela passa de secretária despercebida a celebridade. O blog faz um tremendo sucesso (eu mesma iria gostar de acompanhar), o que ajuda um tanto na força de vontade para seguir com a empreitada. De fato, o blog dá tão certo que ela o transforma em livro (não diga?), e hoje se dedica exclusivamente à escrita. Um final feliz, devo dizer.
Como é seu primeiro livro, às vezes a narrativa fica forçada demais, ou desconjuntada demais. Não estou criticando negativamente, na verdade acho que para uma iniciante ela escreveu muito bem. Creio que no futuro, quando eu quiser uma leitura bem calminha e engraçada, talvez eu a procure novamente. Ou tente cozinhar algum prato francês. Quem sabe...


[Você já deve saber, há pelo menos 2 anos, que existe um filme do livro (aliás, estampado nesta edição do livro). Vale a pena assistir, até porque a Meryl Streep faz Julia, o que já é louvável...]


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Genética, escolhas que nossos avós não faziam - Mayana Zatz




Eu não costumo ler livros de divulgação científica, fico pensando que já tenho pouco tempo pra ler literatura "de verdade", ficção mesmo, e que, como já trabalho com ciência, minha dose diária de literatura científica já basta. Mas, vez ou outra, ganho um livro destes (ou pego emprestado), e me animo a ler. No caso deste foi meu pai quem me presenteou, na melhor das intenções. E eu acabei gostando de ler o tal livro. 
A autora, Mayana Zatz, é professora titular na USP, no departamento de Genética, ao qual eu pertenço como mera aluna. Ela é também uma das cabeças do Centro de Estudos de Genoma Humano, o local referência de aconselhamento genético em São Paulo, e no Brasil.

 O livro discute os avanços na área da genética relacionados ao diagnóstico de doenças, tratamento das mesmas e determinação de prole afetada. Hoje é possível saber de antemão, dado o histórico familiar de afetados e os exames de DNA, se um casal terá um filho doente ou não. Isso, entre outras coisas, gera uma série de questionamentos éticos que não acompanharam, com a mesma velocidade, os avanços da genética. É ético escolher o sexo dos filhos? É ético estocar sangue de cordão umbilical em bancos privados? É ético usar DNA de uma pessoa que não autorizou seu uso se for para esclarecer um crime hediondo?
Muitas questões estão em debate, e ainda não há um certo ou errado. Definir certos parâmetros de ética será fundamental daqui em diante, por dois motivos: a ciência não pára de avançar, inclusive hoje mesmo já se pode fazer mais do que nossa imaginação permite vislumbrar; e enquanto discutimos, pessoas, que poderiam se beneficiar de um tratamento inovador estão morrendo.
O livro promove um debate informativo das questões mais importantes, e que batem à nossa porta todo dia,  seja você diretamente ligado ao assunto ou não. Termino com um trecho do prólogo escrito por Jorge Forbes, médico psiquiatra: "Este livro é uma decepção para aqueles que vivem correndo atrás de reduzir a experiência humana a uma tabela de genes onde tudo estaria previsto, (...) um 'estava escrito' científico. Os que veem os geneticistas como astrólogos autorizados pela Academia, com título de doutor, vão sofrer nestas linhas, vão ficar embaraçados. Por outro lado, é um bálsamo aos que compreendem que o mais essencial da humanidade é ser criativo, a saber, onde falta a determinação biológica, porque somos seres incompletos (...)".

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Flappers and Philosophers - Scott Fitzgerald





Este é um dos livros de menor sucesso de Scott Fitzgerald. Coleção de histórias, os temas são os mais variados. No início estava em dúvida se o estilo me agradava ou não, acho que tinha uma certa expectativa construída. Uma amiga já havia me recomendado o autor e a vontade de lê-lo aumentou desde que assisti Meia Noite em Paris, do inigualável Woody Allen. Fato é que minha simpatia e empolgação foi progressivamente aumentando. Alguns pontos me chamaram a atenção, e vou mencioná-los apenas pelo entretenimento de fazê-lo, pois não sou, nem de longe, muito entendida do mundo da literatura (como gostaria de ser). A figura da mulher é bem interessante. Estamos falando dos anos 20, que apesar de sofrer os danos da Primeira Guerra Mundial, foram anos de alta produção e inovação cultural, e onde o papel e figura da mulher começou a mudar um pouco. Fitzgerald, em quase todos os contos com presença feminina forte, reporta uma mulher astuta, consciente de si e independente, que não segue o modelo da dona de casa determinista. Isso fica claro em várias passagens, como no conto The Ice Palace, onde a personagem Sally Carrol diz: “If those women aren´t beautiful, they´re nothing. They just fade out when you look at them. They´re glorified domestics”. Em outro, Head and Shoulders, mostra a ironia de um casal, ele intelectual, ela dançarina (ele head, ela shoulders), que aos poucos vão trocando de papéis a medida que a vida brinca com eles, e quando ela escreve um livro que vira um sucesso, um jornalista faz menção ao casal com os papéis invertidos (ela head, ele shoulders). Outro ponto interessante é a menção da libertação do cristianismo e do teísmo como determinadores de condutas morais. O conto Benediction narra o mal estar da irmã de um seminarista ao visitar a igreja por ele frequentada: “(...) I can´t tell you how inconvenient being a Catholic is. (…) As far as morals go, some of the wildest boys I know are Catholics. And the brightest boys – I mean the ones who think and read a lot, don´t seem to believe in much of anything anymore”.  Incrível como o tempo passa e alguns pontos continuam em debate até hoje. De conto em conto fui me tornando mais e mais interessada no autor e na produção da época, por vezes fiquei imaginando como seriam as adaptações dos contos para curtas-metragens, com certeza muito divertidas. Fiquei com vontade de imergir mais nestes anos dourados...


"There was the eternally kissable mouth, small, lightly sensual, and utterly disturbing" 
(Sobre Zelda)