quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Desafio Literário 2012 - Eva Luna, Isabel Allende



Perambulando em Valparaíso passei por uma feirinha onde havia um vendedor de livros usados. Já estava interessada em conhecer um pouco da literatura chilena, e essa foi a oportunidade. Comprei um livro de páginas amareladas da Isabel Allende, uma das mais conhecidas escritoras chilenas. Calhou também do livro se chamar Eva Luna, nome próprio, apropriado para o Desafio Literário deste mês, além de ser uma desculpa para treinar minha leitura em espanhol.
Pois bem, o livro já começa com uma frase marcante, que diz muito sobre a protagonista e narradora do romance: “Me llamo Eva, que quiere decir vida, según um libro que mi madre consultó para escoger mi nombre”. Eva é filha das chamas entre Consuelo e um índio jardineiro em seu leito de morte. Consuelo, sua mãe, mulher desgarrada de raízes, com poucas emoções em sua vida, empregada de um médico que embalsamava cadáveres com um líquido misterioso, criou a filha de forma simples, e a ensinou a contar muitas histórias fantásticas e criativas. Após a morte da mãe, viveu como empregada de casa em casa, nas quais trabalhava, sonhava e, vez por outra, aprontava em protesto ao comportamento dos patrões. Quando finalmente fugiu para as ruas, sua habilidade de contar histórias a salvou por diversas vezes, e incitou a simpatia de muitos. A epígrafe do livro já dá pistas desse fato, pois é uma citação sobre Sherazade, das Mil e Uma Noites. Enquanto Eva Luna cresce e adquire sabedoria, o país no qual se passa a história sofre uma crise severa devido à ditadura. Não há menção direta à qual seria esse país, mas levando em consideração a nacionalidade da autora e a história sangrenta e pesada de ditadura do Chile, presume-se que esse seja o país de Eva. A ditadura, como se espera, é tratada como o mal, um atraso, um retrocesso pela população do local. O próprio amante de Eva está envolvido no combate à ditadura. Humberto Naranjo é um homem criado na rua, com modos rudes, que, com o tempo, encontra sua vocação: liderar uma guerrilha revolucionária contra o sistema. Apesar de admirar Humberto, sabemos desde o início do livro que a verdadeira paixão de Eva seria Rolf Carlé, cuja história é contada em paralelo. Rolf, dono de um passado doloroso e marcante, é um jornalista que documenta o movimento de guerrilha liderado por Naranjo.
Isabel Allende

Uma história com um fundo político e idealista forte, com um imaginário fantástico acoplado aos fatos do dia a dia que só escritores sul-americanos são capazes de fazer, e um enredo envolvente que, mesmo lendo em espanhol, dá vontade de continuar pra sempre, Eva Luna foi um ótimo livro de iniciação à literatura chilena. Agora devo procurar obras de outros nomes de peso, como Gabriela Mistral e Roberto Bolaño, para rechear as leituras dos nossos escritores vizinhos. 

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