Há, sem dúvida, uma simpatia
pelos livros autobiográficos. A razão é simples: os fatos narrados são
corriqueiros, por vezes trágicos, por vezes cômicos, e você já passou por eles,
ou por alguns deles ao menos. O mesmo senti quando li “Comer, rezar, amar”, que
pra minha surpresa de menina que não lê blockbusters,
principalmente que tendam à auto-ajuda, foi um pequeno deleite. A mesma
simpatia de identificação pessoal aconteceu com o livro de Julie Powell.
Essa é a Julie real!
Comida e cozinha, ou cozinha e
comida, é algo que permeia todas as relações humanas. E assim como algumas pessoas são mais humanas
do que outras, algumas gostam mais de cozinhar do que outras (sem ofensas... eu
mesma sou quase analfabeta, mas adoro tentar!).
No livro de Julie Powell você encontrará muitas receitas entremeadas com
o cotidiano ora histérico, ora tedioso, ora depressivo, ora tudo ao mesmo
tempo, da secretária casada desde os 24 anos, que está prestes a completar os
famigerados 30 e ainda não tem ideia de como alavancar sua vida. Talvez um bebê
resolvesse o problema... talvez... não fosse sua síndrome de ovários policísticos
ou a completa imaturidade emocional para a tarefa. Ela resolve então se engajar
num projeto totalmente lunático: cozinhar todas as 524 receitas do livro Mastaring the Art of French Cooking, de
Julia Child (para os desavisados, um clássico) em 365 dias (um ano se você
fizer as contas). E registrar tudo em um blog, é claro. Daí começa a aventura
de conseguir balancear a carreira (ou a falta dela), dinheiro, marido (e os
ataques histéricos, quem nunca?), amigos, família (a mãe perde de vez a
esperança que a pobre filha vá virar gente grande) e o desafio de realmente
CONSEGUIR fazer as receitas. Porque, por favor, há um capítulo só de receitas
de carnes servidas frias no meio de gelatinas? Quem come isso? E no mais, você
aprende que a comida francesa é qualquer coisa, geralmente algum miúdo
esquisito, como rins, fígado moela e até miolos, embebida em bastante creme de
leite, com mil temperos, e muita, muita, muita, mas muita manteiga mesmo.
No final das contas, o projeto maluco engrena de verdade, e ela passa
de secretária despercebida a celebridade. O blog faz um tremendo sucesso (eu
mesma iria gostar de acompanhar), o que ajuda um tanto na força de vontade para
seguir com a empreitada. De fato, o blog dá tão certo que ela o transforma em
livro (não diga?), e hoje se dedica exclusivamente à escrita. Um final feliz,
devo dizer.
Como é seu primeiro livro, às vezes a narrativa fica forçada
demais, ou desconjuntada demais. Não estou criticando negativamente, na verdade
acho que para uma iniciante ela escreveu muito bem. Creio que no futuro, quando
eu quiser uma leitura bem calminha e engraçada, talvez eu a procure novamente.
Ou tente cozinhar algum prato francês. Quem sabe...
[Você já deve saber, há pelo menos 2 anos, que existe um filme do livro (aliás, estampado nesta edição do livro). Vale a pena assistir, até porque a Meryl Streep faz Julia, o que já é louvável...]
[Você já deve saber, há pelo menos 2 anos, que existe um filme do livro (aliás, estampado nesta edição do livro). Vale a pena assistir, até porque a Meryl Streep faz Julia, o que já é louvável...]
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